Sucesso gera dezenas MCs espalhados pelo Rio
13:00
O sol do funk está brilhando para
todo mundo. Da Baixada Fluminense a São Gonçalo, passando por praticamente
todas as comunidades carentes do Grande Rio. Tem MC de todos os tipos, tamanhos
e trajetórias, alguns ricos, outros nem tanto, mas todos felizes e deslumbrados
com o estrelato nos bailes da vida.
D’Eddy não devia estar nessa vida.
Ele não é do morro, fez faculdade e teve bons empregos. Mas o funk está no
sangue, e hoje, aos 24 anos, Edmar Santana anda para cima e para baixo num
Córdoba vermelho sangue, estalando de novo.
“— Isso é uma fábrica de dinheiro — descreve. — Nunca me imaginei entrando numa concessionaria e escolhendo um carro como esse” — festeja ele, que tem um apartamento na Glória e já morou na Barra, mas, com o nascimento do filho, voltou para a casa dos pais em São Gonçalo, onde nasceu e cresceu.
O sucesso para D’Eddy começou há
seis anos, quando ele, então assessor de planejamento de uma multinacional,
lançou o “Rap do Pirão”. A faculdade de Economia ficou para trás, e ele entrou
de cabeça no showbiz do funk. Atualmente, D’Eddy faz quatro shows semanais,
acompanhado por dois dançarinos. Sua renda mensal está em torno de R$ 4.200,
dinheiro gasto com parcimônia, segundo ele.
“- E preciso economizar — ensina — e separar os reais amigos. Na época do sucesso, sempre são muitos, mas depois...”.
O conselho do colega mais
experiente é seguido à risca por uma dupla mais jovem, os MCs Mumu e Pelé,
autores do “Rap da Intriga”. Exímios dançarinos, os dois eram bichos-papões de concursos
em clubes na periferia, até que um dia resolveram entrar numa disputa de rap.
Deu certo e agora os dois sonham com um LP solo. Enquanto isso, Mumu, nascido
Samuel Azevedo Barroso há 26 anos, em São Gonçalo, se reveza na direção do táxi
que comprou em sociedade com o futuro sogro.
“— Só não dirijo quando faço show à noite” — conta ele, que é reconhecido pelos passageiros, especialmente os adolescentes.
O dinheiro do rap — cerca de R$ 2
mil mensais — vai todo para a obra na casa dos sogros em Santa Luzia, distrito
de São Gonçalo. Mumu está construindo um segundo andar para morar com a noiva,
Joice. O parceiro Pele esta mais a frente nessa estrada, com três filhos e já no
segundo casamento. As crianças, fanzocas do pai, vão morar com ele quando a
casa no Fonseca, em Niterói, estiver pronta. Pelé está comprando o terreno para
começar a obra.
“— E ano que vem eles voltam para a escola particular” — planeja ele, que na carteira de identidade é Sandro Brígido dos Santos, de 24 anos.
Novatos na vida de funkeiro, Curuca
e Tuzinho estouraram com o “Rap da Cidade Alta”, sobre o lugar onde nasceram e
vivem, em Cordovil. Com apenas sete meses de carreira, os dois são
profissionais, fazendo 10 shows por fim de semana, a R$500 cada um. A maior
parte do cachê, porém, fica para os empresários e a dupla ganha cerca de R$ 1
mil por mês. Curuca e Tuzinho são reis mesmo na Cidade Alta, onde dão autógrafos,
participam de festas e são seguidos pelas crianças do bairro.
“— Nunca vou me mudar daqui. Só quero melhorar a vida da minha família - jura Curuca, ou Anderson Luís da Silva, o garoto de 18 anos, que já reformou inteiro o apartamento onde mora com a família.
Tuzinho gosta mesmo é da fama.
Tanto que não larga o emprego de estofador, no Rio Comprido, apesar de viver
chegando atrasado. Tudo bem — entre os maiores fãs da dupla, estão os filhos do
patrão de Tuzinho, que, por isso mesmo, perdoa tudo.
“— O que vou fazer? Todo dia, quando chego, os alunos do colégio em frente me pedem autógrafo. Tenho que atender” — gaba-se, sorridente, Eleandro Teixeira Alves, 22 anos, sorvendo cada gotinha da vida de MC.
Matéria: Ano/1995
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