Batidão funk ainda manda no Rio
17:29A
black music se divide hoje. no Rio, Revival do charme, a tentativa de conquista
de terreno do hip hop e o funk, a tendência mais
forte ainda é a última
"O funk é como se fosse a
feijoada; As pessoas torciam o nariz e ela acabou virando um prato tipicamente
brasileiro", compara Fernando Luís
Matta, 0 DJ Marlboro, que diz fazer três bailes
por fim de semana para uma média de duas mil pessoas em cada um deles.
Marlboro toca em São Gonçalo, no Alto da Boa Vista, e na Região dos
Lagos, Mas o baile funk mais falado de hoje em dia é o de Rio das Pedras, em
Jacarepaguá. Lá moradores e organizadores fazem coro para falar de seis. oito
mil pessoas que aparecem nos fins de semana. Para dançar.
"Quando
eu toco Deusa Negra do Rock Bolado, a massa canta
junto", alegra-se o DJ Dennis, de 19 anos, que trabalha para a equipe
Furacão 2000, de Rómulo Costa, 47 anos,
dono de baile,
"É uma festa que junta todo tipo de gente, como os bailes de
soul antigamente. Vão jogadores de futebol, filjos de juízes, o pessoal da
comunidade, lutadores de jiu-jitsu, brancos, pretos, Fica cheio de carrões e de
mulheres bonitas”, comemora Romulo, que ve na realização desse evento a chance
de dar uma im agem mais positiva ao funk.
"O
MC de funk ficou marginalizado pela
sociedade", Lamenta José da Silva, o Ze Black, dono da equipe Soul
Grand Prix (SGP).
Esta e a Furacão eram duas das mais
fortes equipes de soul no início do movimento. A SGP faz, hoje, bailes para quatro
mil pessoas em Nova Iguaçu, Três Rios e Cabo Frio, segundo Zé Black,
"Mas o bom é que o funk está
invadindo a Barra da Tijuca. O batidão vai voltar com forca total", prevê
o homem que começou como carregador de caixas de som, nos anos 70 e, hoje além
de comandar a equipe produz discos como Soul Grand Prix – O retorno.
No
CD, participações de William e Duda, separadamente.
Os dois cantaram juntos,o Rap da felicidade (...eu só quero é ser
feliz/ andar tranquilamente na favela em que eu nasci...”).
"Para
dançar estas músicas, não tem muito um
visual certo, No baile funk, o mais importante é estar cheiroso", resume o
DJ Dennis
"Algumas marcas viraram marcas
de funkeiros, como Redley, Gang e Cyclone. O funkeiro, por incrível que pareça,
é um sujeito consumista. Se preocupa com o visual e é capaz de comprar a
prestação u, tênis bem caro para fazer bonito no baile", retrata Rómulo
Costa.
Também
lançando discos, o homem da Furacão 200-,
lamenta uma mudança em relação aos bailes de antigamente: a redução do número
de shows. As festas que ajudaram a catapultar para o sucesso gente como Tim
Maia. Cassiano, Sandra de Sá e banda Black Rio, entre outras, têm um perfil diferente.
Praticamente sem shows
"A equipe teve que acompanhar a
evolução", justifica-se Rômulo, que garante que numa coisa os bailes não
mudaram a capacidade de lançar moda.
"Depois da popozuda, a próxima gíria que vai estourar é
potranca". adianta.
O
cantor paulistano Maurício Manieri, que féz sucesso com Minha
Menina e já vendeu 200 mil cópias de seu disco de estreia, é um exemplo de
quem ainda conseguiu aproveitar um pouco da generosidade dos funkeiros, Ele não era muito bem compreendido com seu som suingado nos bailes
que frequentou, no subúrbio do Rio, para cantar, antes do sucesso.
"O meu som tern mais a ver com os
bailes que frequentei na periferia de São Paulo. O público era todo misturado,
a molecada ia”, compara ele, completando que o básico da escola Black é,
primeiro, fazer dançar e depois, falar de relacionamentos nas músicas.
30 ANOS DE EMBALO
Inicio
dos anos 70 - Acontecem os primeiros bailes soul no
Rio. As equipes, que tinham seguidores como se fossem times de futebol, eram
mais irmportantes do que os DJs. Caravanas de minas
e São Paulo vinham
para os bailes no Rio.
Meados dos 70 - Já havia mais de 50 equipes aluando na cidade, O visual Black
Power toma conta das festas. O documentário Wattstax,. de Mel Stuart
(com Richard Pryor. Isaac Hayes. Jesse Jackson), vira moda entre os blacks. Também
moda foi o livro Uma alma no exílio, de Eldrulge Cleaver.
Fim dos 70, Início dos 80 - A disco music toma um pouco do espaço da black music, toma um Lady Zu, misturando um pouco dos
dois, faz sucesso com a musica A noite vai chegar. Os bailes soul já estão mais esvaziados. Nos que ainda resistem, a black music
é deixada para o fim, para satisfazer quem insistia em ir às festas querendo ouvir
esse gênero. Começa a nascer a batida Miami Bass, que dará origem ao funk dos
bailes de subúrbio.
Meados dos 80 - Auge do Miarni Bass.
Nos bailes do subúrbio, o visual era composto por boné, camisa
florida/colorida no estilo surfista e cordões pesados (também conhecido como
"batidão"). Nesses bailes, um cantor chamado Abdula faz sucesso com a
melo da Mulher Feia. Os funkeiros começam a fazer letras ern português. Surge
o charme, para quem quer uma musica mais lenta e um figurino mais bem cuidado.
O hit do charme é It’s a new day, do grupo Brick.
Inicio
dos 90 - O
subúrbio está tomado pelo Miami Bass do funk. O charme resiste, mas não está
tão forte quanto ao primo de BPM acelerado. O DJ Marlboro lança em 92 o segundo
volume do LP Funk Brasil.
Fim dos anos 90 – A sociedade enxerga nos bailes
funk um foco de violência. O hip hop ganha força. Os grandes ícones do gênero
são os Racionais MCs de São Paulo. No Rio, MV Bill começa a se destacar também.
O charme mantem-se em alguns focos isolados,
2000 - Um baile funk reúne até oito mil
pessoas em Jacarepaguá, A Lapa vira território não só de sambistas. mas de hip hop também, graças às
produções de Ela Cohen (que já tinha dado um empurrão no rock alternativo nos
anos 90). Artistas das antigas começam a planejar trabalhos com os da nova
geração.
Créditos:
Caderno B – Jornal do Brasil/2000
"Se você e/ou sua empresa possui os direitos de alguma imagem/reportagem e não quer que ela apareça no Funk de Raiz, por favor entrar em contato. Serão prontamente removidas".
0 COMENTÁRIOS
- Não serão aceitos comentários anônimos ou assinados com e-mail falso.
– Serão, automaticamente, descartados os comentários que contenham insultos, agressões, ofensas e palavras inadequadas.
– Serão excluídos, igualmente, comentários com conteúdo racista, calunioso, difamatório, injurioso, preconceituoso ou discriminatório.
– Os comentários publicados poderão ser retirados a qualquer tempo, em caso denúncia de violação de alguma das regras acima estabelecidas.