A Zona Norte ensina a fazer baile
18:00
A
Poderosa Equipe de Som; Este seria o titulo de um filme de Francis Ford
Coppola, se ambientado nos subúrbios do Rio
de Janeiro.
Seria
ficção se não fosse realidade. É difícil
precisar, mas estima-se que em todo Grande Rio 250 clubes ocupam seus salões
nos fins de semana com bailes e shows. Os 350 mil Jovens que tem nesses
eventos a sua única forma de lazer nunca deixam nas bilheterias mais do que Cz$
20. Sem estrutura para programas desta proporção, os clubes fazem
acordos com as equipes de som que semanalmente aterrissam nos mais escondidos
recantos do Estado com toda a sua parafernália de som e luz. Poucos falam cm
cifras, rnas o negocio é tão lucrativo que até banqueiros do jogo do bicho,
como Carlinhos Maracanã, estão fornecendo a investir no setor.
A
equipe de som mais famosa é a Furacão 2000.
Já foi ali personagem de uma novela. Partido Alto. Ao longo de 12 anos de
existência gravou S LPs com seleções de seus maiores sucessos. Em 83, quando o
conjunto Kiss velo ao Brasil, a Furacão 2000 foi sondada sobre a possibilidade
de alugar seu equipamento para o show que os metaleiros fariam no Maracanã. Os
donos da equipe recusaram a proposta.
"Ganharíamos 10 vezes mais do que o normal, mas teríamos que deixar o nosso público durante dois fins de semana sem baile", conta Rômulo Costa, um dos sócios.
Ele estima que a Furacão 2000 ocupe
atualmente 20% do mercado de bailes. Todos os domingos eles estão em 10 clubes.de
Bonsucesso à Raiz da Serra. Aos sábados, a Furacão 2000 leva seu equipamento a
Volta Redonda. Canto do Rio e onde mais for contratada. No total são 120
pessoas trabalhando para o divertimento, semanalmente, de 40 mil pessoas.
Com
uma estrutura dessas, não foi difícil
para Rômulo Costa produzir o ultimo show do grupo RPM no Maracanãzinho, há
duas semanas, O difícil é conseguir que Rômulo revele o valor de operações
desse porte. Mas á possível ter uma ideia. Uma equipe como a Super Quente Disco
Clube, infinitamente menor que a Furacão 2000, tem despesas da ordem de Cz$ 12
mil por baile que realiza No Miro's Society Clube, em Jacarepaguá onde
concentra a metade de suas forças, a Super Quente envolve e emprega 40 pessoas
que se dividem entre segurança (do Carlão), porteiros, discotecário, técnico de
som, outro de luz e um responsável geral, Os custos não assustam Silvio Roberto
D'Ávila, um dos três sócios,
"Vale a pena", diz com um largo sorriso. Silvinho. como é conhecido, identifica apenas um Inimigo capaz de atrapalhar seus negócios: as festas Juninas
"Nessa época, o movimento dos bailes cai 50% mas esse ano eu vou fazer uma festa Junina dentro do meu clube", explica.
Além da qualidade do som, o que mais diferencia uma boa equipe
de uma má é o seu "visual", isto e, a decoração e Iluminação dos
salões onde se realizam os bailes. Silvinho gastou recentemente Cz$ 20 mil em
lâmpadas de neon. Já Instaladas no clube de Jacarepaguá. O discoman Raul, como é
conhecido o dano de uma das poucas equipes de som na Zona Sul, a da Associação
de Servidores Civis, ao lado do Canecão, comprou esta semana, par um valor não
revelado, um aparelho capaz, de Iluminar com laser sua pista de dança. A Pop
Rio Discoteque, equipe que ocupa dois ambientes do Irajá Atlético Clube,
ilumina seu salão principal, o de funk
com uma bandeja de 20 spots, seis canhões de 1000 watts cada e oito painéis
de argolas de neon. José Maria da Silva, o Zé Maria, dono da Pop Rio estima em
Cz$ 300 mil o valor total de seus equipamentos de luz e som.
"No Inicio, era difícil para os clubes admitir que esse trabalho poderia dar resultados", conta Zé Maria. "Mas vendemos a ideia, e nosso trabalho e uma realidade hoje".
A Pop Rio atualmente trabalha em três clubes,
e tem planos para expandir essa "realidade".
Um
objetivo, difícil de realizar, é fazer bailes na
Tijuca, ou na "Zona Norte Fina", como explica Zé Maria.
"Ainda existe muita resistência ao nosso trabalho por lá".
Rômulo Cosia, da Furacão 2000, também
sente este problema
"Rescindiram nosso contrato no Clube Municipal, na Tijuca, porque diziam que ia multo crioulo nos bailes".
Na Zona Sul, então, nem pensar.
"Ofereci ao Botafogo", conta Rômulo, “pagar o salário de um Jogador que ganha una Cz$ 10 mil ern troca do salão para bailes. Mas eles ficaram com medo", diz;
"A comunidade da Zona Sul deveria buscar conhecer a que e feito nos subúrbios", sugere Jorge Alves, um dos dois sócios da equipe Casino Disco Club. de Bangu.
Ele acha que se fosse assim, os que moram em
Ipanema, Copacabana e adjacências teriam a oportunidade de descobrir o charme
e o charminho, dois ritmos musicais que começam a superar o funk na
preferencia dos frequentadores dos bailes da Zona Norte. Segundo o discotecário
Mario Luiz Rodrigues, o linguiça.
“o charme é um funk mais melodioso e o charminho uma música lenta mais corrida".
Jr., sócio de Jorge Alves na Casino
Disco Club, define o ritmo de maneira semelhante:
"o charme é uma música mais compassada, com uma linha melódica mais definida do que o funk".
Os discos com charme e charminho,
bem como quase todo d repertório
das equipes de som, é importado dos Estados Unidos. Os principais músicos que desenvolvem
o charme são o grupo Juley, SOS Band. as cantoras Cherelle e Eugene
Wilde o cantor Leon Bryant.
Do jeito que os negócios estão indo, não será surpresa
se os principais donos de equipes, de som se reúnam em tomo de um deles e o elejam,
em Novembro, deputado estadual. Tudo Indica que o candidato será Romulo Costa
e o partido o PTB, mas ninguém confirma. Da mesma forma, nenhum desses empresários
da noite suburbana admite publicamente sua irritação com o que considera “uma
Intromissão" do banqueiro Carlinhos Maracanã, que já inaugurou dois clubes
com o objetivo de fazer bailes e shows.
"A gente não poderia apontar jogo do bicho", dizem os donos das equipes. A Poderosa Equipe de Som, o filme que Coppola talvez realize no Brasil, está vivendo um momento crucial.
Créditos:
Maurício Stycer – Jornal do Brasil/1986
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