Funk na veia: ritmo parece incansável na arte da renovação
15:49Cada vez mais pop, o ritmo que cresceu nas favelas cariocas ganha identidade própria, conquista a classe média e mostra que tem força para se firmar como movimento cultural
É som de preto / De favelado / Mas quando toca ninguém fica parado [...]”. Os versos iniciais do funk Som de Preto, de autoria do famoso DJ Marlboro, conseguem refletir bem o que muitos artistas, pesquisadores e antropólogos afirmam ser a verdadeira importância do movimento funk: o diálogo entre o morro e o asfalto. Influenciado pelo ritmo nascido nos Estados Unidos, o funk carioca ganhou corpo e identidade através dos bailes surgidos no subúrbio do Rio de Janeiro, na década de 1980. Com fortes raízes entre os moradores das comunidades carentes, as letras eram carregadas de temas que abordavam a pobreza e a violência nas favelas.
O ritmo, que já é “quarentão”, parece incansável na arte da renovação. E no embalo dos antigos e novos nomes que surgem na cena funk carioca, o “pancadão” às vezes chega mais sensual, brincalhão, romântico e até com cara de Pop Music.
O ritmo, que já é “quarentão”, parece incansável na arte da renovação. E no embalo dos antigos e novos nomes que surgem na cena funk carioca, o “pancadão” às vezes chega mais sensual, brincalhão, romântico e até com cara de Pop Music.
Esse som - transformado em diálogo entre o morro e o asfalto - é motivo de reflexão até para estudiosos. Segundo a antropóloga Maria José Soares, o funk se constituiu como uma “metáfora do viver” das comunidades cariocas.
“As letras e canções expressam um modo de lazer no qual o lúdico e o violento constituem dimensões contraditórias da existência que se complementam. Nesse sentido, diria que de um lado as letras e canções expressam uma lógica classificatória excludente que traduz a existência de conflitos e violência vivenciados por essas comunidades em situações marcadas pela desigualdade social, e, de outro, a sonoridade da música, o contato corporal com o outro, a intensidade do som e a excitação lúdica vivenciadas no espaço ritual dos bailes, não deixam de representar também um mecanismo que reforça a rede de socialidade entre os participantes definindo um estilo de vida específico”, analisa Maria José.
Ainda de acordo com a antropóloga, a visibilidade e a representatividade conquistada pelo funk estão associadas aos processos de mudança social, seja em termos políticos e econômicos, como também nas esferas do comportamento, do lazer e do consumo vivenciados pela sociedade brasileira nas últimas décadas.
Na opinião do músico e jornalista Claudio Salles, que também é sub-secretário de cultura de Niterói, o funk sofreu muitas mutações dos anos de 1960 até hoje.
“O funk, na verdade, nasceu com James Brown nos Estados Unidos. No Brasil ainda nos anos 60 e 70 o movimento ganhou uma forte adesão com TIM Maia, Gerson King Konbo, Tony Tornado e Banda Black Rio; nos anos 80 com Claudio Zoli, Ed Mota, Renato Roquete e outros. No final dos anos 80 e início dos anos 90, o Funk ganhou outros contornos e características rítmicas e temáticas próximas à realidade das comunidades cariocas. Musicalmente abandonou-se a formação musical com bandas, instrumentistas e verteu-se mais para a música eletrônica, DJ, bateria eletrônica, teclado e uma influência direta do Miami Bass mixado com os “ritmos de terreiro”, se transformando em um gênero bem diferente do ‘Funk original’. Mas a legitimidade deste movimento se dá pela mesma razão que invoca o preconceito: principalmente porque retrata o cotidiano das comunidades, de conflitos violentos e da sexualidade apimentada”, opina Salles.
Representante da nova safra de funkeiras, MC Anitta, de 19 anos, que se apresenta, hoje, no Bar do Meio em Piratininga, é uma das que defendem que o ritmo deve ser tratado como expressão cultural e não apenas como entretenimento.
“É claro que o resultado do nosso trabalho é transformado em diversão, mas isso acontece com todos os estilos musicais. A minha luta está ligada à valorização do funk como movimento de expressão cultural”, afirma Anitta que começou a cantar aos 7 anos, no coral da Igreja Santa Luzia em Honório Gurgel, subúrbio do Rio.
Ainda de acordo com a cantora, o funk enfrenta, atualmente, o mesmo caminho que o samba trilhou.
“São ritmos vindos de comunidades carentes. Se observarmos a história do samba, veremos que a luta dos músicos também foi grande. Mas eles venceram! O funk está no mesmo caminho. Hoje, as festas regadas ao batidão não estão restritas às comunidades. O funk chegou à novela das nove. Isso é muito legal”, comenta, fazendo referência à forma, cada vez mais clara, com que a dramaturgia brasileira explora esse universo.
Questionada sobre o que faz para garantir o respeito pelo estilo que canta, a cantora diz que procura exaltar as mulheres em suas letras.
“As mulheres precisam se valorizar. E é isso que gosto de cantar. É claro que busco dar um tom divertido às letras, mas a minha missão é essa”, reflete.
A história da jovem, na música, começou aos 16 anos, após postar alguns vídeos de cover na internet. Depois disso, ela foi descoberta por produtores que aprovaram e apostaram no talento da “menina-moleca’’. Anitta não teve dúvidas e deixou o emprego em uma grande mineradora para correr atrás do seu sonho e conquistar os palcos do Brasil.
A história da jovem, na música, começou aos 16 anos, após postar alguns vídeos de cover na internet. Depois disso, ela foi descoberta por produtores que aprovaram e apostaram no talento da “menina-moleca’’. Anitta não teve dúvidas e deixou o emprego em uma grande mineradora para correr atrás do seu sonho e conquistar os palcos do Brasil.
Hoje, aos 19 anos, a artista tem carreira reconhecida no cenário do funk e carrega um repertório de sucessos, como “Eu vou ficar’’, primeira música de trabalho em 2010, “Proposta’’, que levou a cantora ao topo das rádios cariocas, “Fica só olhando’’ e “Menina má”, que foi acompanhada por um clipe sensual e inovador para o gênero.
No palco, a cantora conta com o apoio de bailarinas, coreografias ousadas e um figurino provocante. Anitta usa a música para transmitir o que pensa e, por isso, é ela mesma quem desenvolve os temas abordados em suas letras, sejam autorais ou não. Cansada da mesmice e de ouvir músicas que colocam as mulheres em um papel submisso, Anitta defende a mensagem de valorização da mulher e abusa da sensualidade.
Novos talentos do gênero
*Sucesso nas rádios de todo o País, o cantor e compositor Naldo é outro exemplo da nova safra do funk carioca. Aos 7 anos de idade, Ronaldo Jorge Silva, o Naldo, começou a cantar em uma igreja bem perto de sua casa e, aos 15 anos, tomou a decisão que mudaria o rumo da sua vida: formou uma dupla com seu irmão, Lula. Em 2005, Naldo e Lula se lançaram no funk com a música Tá Surdo, que logo virou um hit. Em seguida, vieram as músicas A Festa É Nossa, Rebola, Linda Demais, Me Chama Que Eu Vou e o grande sucesso Como Mágica.
O falecimento de seu irmão Lula, em 2008, foi uma grande perda para Naldo que decidiu não abandonar a carreira e lançou seu primeiro álbum, Na Veia (2008), que deu origem ao DVD Na Veia Tour lançado em Novembro de 2011. Esse DVD vem colocando o cantor e compositor num patamar cada vez mais alto do show business. Emplacando um hit atrás do outro nas rádios de todo o País.
Mc Koringa - Influenciado pelos grandes sucessos das décadas de 80 e 90, outro que está em alta é o MC Koringa. O músico gravava os programas das rádios em fitas cassetes e os editava para depois mixar por diversão.
Foi só em 1996 que a grande oportunidade veio para o MC, após lançar a música A Caminhada, quando ainda fazia dupla com Paulinho.
Em meados de 2003, na época em que trabalhava em um supermercado, recebeu o convite do Dj Marlboro para ser “Produtor” de seu estúdio, no Lins de Vasconcelos - Zona Norte do Rio - A Link Record’s e, desde então, o músico conquistou o público e os novelistas. O atual sucesso do funkeiro é o hit Dança Sensual, que está na trilha sonora da novela Salve Jorge, da TV Globo.
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