"Sou contra o funk pornográfico e não toco", diz DJ Marlboro
16:25No final dos anos 70, os bailes funk no Rio de Janeiro já eram sucesso. A trilha sonora, porém, era 100% norte-americana, com ídolos da Black Music como James Brown. Fernando Luís Mattos da Matta, o DJ Marlboro, já discotecava nessa época e percebeu que faltava música nacional nas pistas. Em 1989, ele lançou o disco Funk Brasil 1, que é considerado o marco zero do funk nacional.
Hoje, mais de 20 anos depois, ele se desdobra para cumprir uma agenda que inclui shows dentro e fora do Brasil, um programa diário de rádio, e tempo para ouvir o trabalho de novos artistas que querem ser lançados pelo DJ que virou referência nacional do estilo.
Como começou a produção nacional de funk?
O pesquisador Hermano Vianna fazia umas incursões no morro fazendo entrevistas para escrever o livro “O Baile Funk Carioca” . E um dia ele me deu uma bateria eletrônica. O professor dele inclusive deu uma bronca dizendo que o pesquisador precisa registrar sem interferir, e que ele poderia mudar a história me dando aquele presente. E foi o que aconteceu. A partir dessa bateria, eu comecei a criar as primeiras letras e os primeiros artistas. Porque na época não tinha nada.
E como você ajudou a criar esses artistas?
Incentivei a galera que já participava dos bailes a fazer letra em português. Fazia festival, incentivava na rádio a galera a compor. No primeiro disco, de 1989, o Funk Brasil 1, eu regravei o Rock das Aranhas, do Raul Seixas, com o Cambalhota e fui fazendo com os amigos, na solidariedade e com a bateria que o Hermano me deu. Daí veio o segundo disco, depois outro e virou um movimento.
E você acha que o funk nacional se assemelha de alguma forma ao funk americano que tocava nos bailes antes?
Não, o funk daqui ganhou cada vez mais características nacionais. O que se faz no Brasil hoje não se faz em lugar nenhum do mundo. Hoje todos querem fazer o que se faz no Rio de Janeiro. O Will-i-am, do Black Eyed Peas, toda vez que vem ao Brasil quer ir no meu estúdio fazer uma pesquisa.
E o que tem de tão especial no funk nacional?
É uma característica bem brasileira que é a mistura. Um DJ alemão, que é musicólogo, me falou uma vez que o Brasil sempre foi muito respeitado musicalmente com a Bossa Nova e o samba, mas eles estavam esperando o dia em que o Brasil criasse a sua música eletrônica. E o funk é essa música. Porque eles sabem que aqui as coisas evoluem muito bem tudo, e os ritmos voltam melhor do que quando chegam. É comum ver funk com trecho de samba-enredo, com uma musica moderna da Europa, com afoxé, rock, berimbau. O funk hoje é o que melhor representa a cultura brasileira na miscigenação.
Em São Paulo, muita gente só conhece o funk que fala de sexo explicitamente. Os artistas que se dedicam a esse tema são maioria?
Acho que não é a maioria. E não é tanto sucesso quanto as músicas de ostentação, que falam de carro, de marcas, por exemplo. Eu sou contra música de pornografia. Eu até aprovo conteúdo sensual, mas pornografia não. Tanto que não toco. Quando faço baile em São Paulo, toco duas horas e meia, não tem uma música de conotação sexual. E fica lotado, é incrível. Mas tem quem faça e tem quem goste. Não posso discriminar quem faz esse tipo de música porque é isso que eles querem passar.
Acha que essa opinião é preconceituosa?
Sim. É falar de algo que você não conhece. Porque tem o funk romântico, o politizado, o que faz piada e os que não têm pretensão nenhuma, só quer fazer dançar.
A pacificação dos morros no Rio favoreceu ou prejudicou os bailes funk?
Depende. Ter a UPP é importante, mas tirar o funk da favela é burrice. Muitas das músicas de apologia à criminalidade e de conteúdo sexual explícito são assim porque onde eles moram é um lugar sem lei. E mandar o baile para onde não tem UPP, vai melhorar o funk? Vai porra nenhuma! O que poderiam fazer? Incentivar as pessoas a falar das questões da comunidade, mas não tirar o funk da favela. Isso é sacanagem. Tem que dar um tempo para o funk se adaptar, se reintegrar. E logo vão começar a fazer letra falando sobre como é legal morar em lugar pacificado.
Créditos: Profissão Repórter
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