Funk turbinado por baixos e guitarras

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RIO - O batidão do funk está ganhando novos arranjos. Se antes bastava um DJ soltar o pancadão no MPC para um MC cantar um rap, hoje, muitos funkeiros abrem o verbo acompanhados por bandas. Foi assim com Naldo e MC Marcinho, que lançaram recentemente CDs/DVDs ao vivo, gravados com vários instrumentos no palco. E vai ser assim com MC Smith, que está produzindo um álbum de versões funkeiras de Cazuza.

Aos 34 anos, metade deles dedicado ao funk, Marcinho reuniu uma formação com bateria, teclado, sax e cordas para a gravação do CD/DVD "Tudo é festa" (EMI) por sugestão de sua produtora Lidiane Madureira. No início, o funkeiro teve receio de perder a essência do batidão, mas, depois, adotou a banda em vários outros shows.

Tinha medo de tirar o peso e a identidade das músicas, transformando o funk em pop. Foi um desafio, mas conseguimos unir o tamborzão a outros instrumentos. Agora, todos os shows têm ao menos baixo, violão e backing vocal. Quando o espaço permite uma estrutura maior, faço com bateria, teclado e sax — explica Marcinho.

Marcinho fez aulas de canto, o que melhorou a voz anasalada do início da carreira, e agora está aprendendo a tocar violão. A diferença é perceptível em hits como "Rap do solitário", "Glamurosa" e "Favela".

Ano que vem quero fazer aulas de bateria para ser um músico mais completo no palco. Antigamente, só cantava pelo nariz. As gravações eram muito ruins — diz, rindo, o Príncipe do Funk, que não cogita a hipótese de tirar o “MC” do nome, como lhe foi sugerido. — Seria virar as costas para tudo o que conquistei graças ao funk.

Já o cantor Naldo abdicou do título de MC no seu recém-lançado "Na veia tour" (Deckdisc). O batidão se confunde com a bateria na música que dá nome ao CD/DVD e em outras faixas, como "Me chama que eu vou" (veja um trecho do DVD) e "Tá surdo". Ele próprio reconhece que quis seguir uma linha mais pop, com a presença da banda.

Foi uma estratégia comercial compatível ao som. Minha origem é o funk, levanto essa bandeira, mas não estou limitado a isso. Hoje, acho que faço um pop funk, com algumas músicas românticas. — diz Naldo, que neste domingo na Praça da Apoteose

Naldo segue uma linha na qual Claudinho e Buchecha foram pioneiros nos anos 90, adotando instrumentos como violão e tirando o “MC” do nome da dupla. O próprio Buchecha faz uma participação em “Eu quero você”, no DVD do discípulo, que também conta com uma colaboração de Preta Gil.

MC Smith tem uma trajetória diferente. Ficou conhecido por cantar raps proibidos, e chegou a ser preso ano passado, por apologia ao crime e associação para o tráfico. Quando saiu da cadeia, gravou uma versão emfunk melody de “Vida louca vida”, música de Lobão e Bernardo Vilhena eternizada na voz de Cazuza. Surgiu, então, o sonho de gravar um CD de estúdio com releituras funk do poeta do rock. O projeto conta com o apoio de Lucinha Araújo, mãe de Cazuza. Smith já tem as bases de 14 faixas gravadas. Entre elas, “O tempo não para” e “Faz parte do meu show”. O funkeiro ainda quer convidar medalhões como Caetano Veloso e Gal Costa para cantar no CD.

A ideia é unir o som da classe alta, que é o rock, à batida do funk, que vem da classe baixa. Já estamos com um baixo e uma guitarra. Para esse projeto, vai ser Smith e Black Banda — conta o MC.

Créditos: Lauro Neto - O Globo Magazine

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