Criminalização do funk seria estratégia de gravadoras para calar protestos

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Funkeiros reclamam de desrespeito à lei dos direitos autorais e contratos abusivos

Das canções de protesto aos melôs de amor, o funk vem, à duras penas, tentando quebrar as barreiras do preconceito. Na histórica luta para romper o rótulo de gênero de baixa qualidade musical, os músicos do funk cortam um dobrado para garantir que o estilo seja visto pelo que é de fato – expressão da cultura popular brasileira.

Criminalizado durante anos pela alta sociedade, a quem não era interessante ouvir a voz das favelas, hoje o funk tem à frente desafios tão complexos quanto teve no passado. A exploração das gravadoras e o não cumprimento dos direitos autorais dos funkeiros são apenas algumas das tentativas da indústria cultural de enquadrar o funk como gênero marginal.

“Ao criminalizarem o funk, os que hoje defendem a sua proibição são os herdeiros históricos daqueles que perseguiam os batuques nas senzalas”, explica a antropóloga Adriana Facina.

Especialista no assunto, Adriana conta que a indústria funkeira é um mercado fortemente monopolizado por poucos empresários que dominam gravadoras, produtoras de DVDs e programas de TV e rádio na grande mídia.

Mc Leonardo é um dos funkeiros que lutam pelo cumprimento da lei dos direitos autorais para o funk

Eles usam deste poder para não respeitar leis de direitos autorais, estabelecer contratos lesivos aos artistas, descartando aqueles que, ao construírem carreiras mais sólidas, se negam a se submeter a essas regras”, conclui.

Para o Mc Leonardo, ativista e presidente da Associação dos Profissionais e Amigos do Funk (APAfunk), a indústria cultural não enxerga o gênero como uma fonte de renda lucrativa e por isso existe esta grande dificuldade em assegurar os direitos dos músicos.

Estamos presos em um sistema opressor que se apodera da nossa obra, com contratos padronizados, não negociáveis e vitalícios” explica. “Será mesmo que o Bochecha, Mc Leozinho, Mc Sapão pararam de produzir? Cadê as músicas destes funkeiros? O fato é que quem se nega a assinar o contrato fica fora do mercado”.

Segundo a antropóloga, a galinha de ouro dos empresários que hoje dominam o funk são as músicas de duplo sentido, que apelam para a sexualidade. Chamado de “putaria”, esse tipo de música vêm sendo explorado à exaustão pelas gravadoras e DJs nos bailes como forma de “impor uma espécie de censura velada ao funk consciente, com letras mais elaboradas e de teor crítico”.

Outro mundo, composição de Mc Xakal, lidera as mais pedidas na rádio

Músico e compositor de funk há 13 anos, Raphael Lacerda, Mc Xakal, é um exemplo do sucesso do funk consciente. Sua recente música, Outro mundo, que fala sobre as mazelas do sistema penitenciário do país, lidera a lista das mais pedidas da rádio Beat 98, e mostra que é possível sair da cadeia de exploração das gravadoras.

Eu gosto de dizer que toda barreira para o sucesso é o medo do fracasso”, comenta. “Temos que continuar tentando para as pessoas se conscientizarem de que o funk é maravilhoso e a gente tem que saber usar a batida a nosso favor.

Créditos: Luisa Bustamante Jornal do Brasil

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