Pai do pancadão
17:46Pai do pancadão" e "padrinho do hip hop" são apenas alguns dos apelidos que os amantes do gênero usam para expressar o trabalho desse artista que modificou a cultura de rua em escala global. Seu nome é Kevin Donovan, mais conhecido como Afrika Bambaataa, dj, produtor e um dos fundadores do Hip Hop, movimento que influenciaria gerações de artistas e militantes dos movimentos sociais, e, até mesmo na criação, do que hoje chamamos de funk carioca.
Nem sempre esse respeito e admiração foram conquistados através da música. Na década de 60, o então jovem Kevin Donovan era líder dos “Espadas Negras”, uma das mais perigosas gangues do Bronx, bairro pobre do estado de Nova Iorque e de maioria negra. A sua trajetória parecia destinada a repetir as histórias de diversos outros jovens que morriam por disputas de gangues por pontos de drogas na comunidade.
A grande mudança na sua vida veio a partir do momento em que ele e os demais integrantes dos Espadas Negras perceberam que as brigas não iriam transformar a sua realidade e muito menos da comunidade. A partir dessa mudança de olhar, eles se entregaram a uma cultura de rua que surgia em Nova Iorque e integrava as pessoas promovendo festas com rap, break e grafite, elementos que viriam a formar o conceito de Hip Hop. Bambaataa e os demais membros de sua antiga gangue formaram um grupo que pretendia reunir todos os rivais, através de alguns preceitos. Assim surgia a Universal Zulu Nation, que tinha como lema: “Paz, Unidade, Amor e Diversão”.
Hoje, com quarenta e oito anos, ainda continua um ativista das causas sociais através da música espalhando as sementes de que música e comprometimento social andam juntos.
“Eu já viajei para várias partes do mundo e estive em diferentes favelas e sempre digo aos jovens que encontro para se organizarem e protegerem sua comunidade. Não esperem que o governo faça algo. Corram atrás dos seus direitos”, disse Bambaataa durante a entrevista que promovia a sua turnê no Brasil.
A origem do nome Zulu Nation, foi inspirado no filme “Zulus”, do diretor americano Cy Endfield, no qual essa tribo de guerreiros que viviam na África do Sul lutavam contra a dominação britânica no final do século 19.
O grupo que surgiu há trinta e quatro anos virou uma organização mundial contando com milhares de adeptos em vários países, inclusive no Brasil, que ajudam a difundir princípios como respeito, liberdade, justiça, trabalho e auto-conhecimento para jovens de periferia, em especial a mais carente de serviços básicos.
“Muitos afro-brasileiros não conhecem seu passado. Muitos pensam que a história começa apenas quando foram trazidos pelos europeus como escravos ao Brasil. Se você acreditar que sua história se resume a apenas isso, você será somente isto. Mas quando se começa a procurar suas raízes descobre-se coisas que muitos não querem te ensinar”.
Bambaataa e a Rocinha
Os B.boys, como são chamados os dançarinos de break, do Grupo de Break Consciente da Rocinha (GBCR) entraram para a Zulu Nation através de um convite do próprio mentor. Há 14 anos desenvolvendo trabalhos sociais usando a filosofia do Hip Hop em algumas comunidades do Rio, como no Complexo da Maré e Rocinha, eles conheceram Bambaataa durante uma apresentação do próprio em 2003, no Rio de Janeiro.
Para o dançarino Willamy Sequeira (Zulu Will), o trabalho rompe barreiras através de oficinas de dança e grafite.“Há cinco anos o grupo desenvolve esse trabalho na Maré e os resultados começam a surgir com uma nova geração de dançarinos que estão surgindo na comunidade”, afirma.
“Conhecer o Bambaataa foi um dos grandes momentos da minha carreira como dançarino. Após o show ele me chamou no camarim e fez várias perguntas sobre o nosso grupo. No fim daquela conversa, ele disse que gostaria de visitar o trabalho na Rocinha e nos convidou para fazer parte da Zulu Nation. Para oficializar o convite ele me condecorou com um dos cordões que carrega no pescoço. Quase morri de tanta emoção. Eu que era fã dele agora ia fazer parte do seu grupo”, afirma Willamy, que excursionou por dois meses pela Europa com o Bambaataa.
O disco que mudaria o Hip-hop
A entrevista com Bambaataa não enfocou apenas os trabalhos sociais realizado pela Zulu Nation, mas também suas influências musicais. Quando criou o grupo “The Soul Sonic Force” e lançou o disco Planet Rock, que seria um o marco do gênero, Bambaataa ajudou a expandir a cultura, que antes se restringia apenas aos guetos, para mais pessoas que ficaram curiosas com o batidão, que misturava musica eletrônica e letras politizadas. O disco viria a influenciar milhares de artistas e também na criação de sub-gêneros como Miami Bass e o próprio funk carioca.
“Essa é a quarta vez que eu venho para o Brasil e gosto da mistura de música que existe por aqui. Eu curto o funk carioca, inclusive já gravei algumas músicas com o DJ Malboro e com o MC Catra. Também gosto muito da MC Tati Quebra-Barraco e gostaria de gravar um rap com ela," diz Bambaataa.
Para Sergio José Machado Leal, o DJ TR, autor do livro “Acorda Hip Hop!”, que narra a história do movimento no Brasil, a música Planet Rock mudaria para sempre a cultura de rua no mundo e no Rio de Janeiro.
“Essa música ajudou a divulgar para a geração dos anos 80 o que era o Hip Hop e sua cultura, além de abrir as portas para o surgimento de outros gêneros. A leitura eletrônica do rap criado por Afrika Bambaataa transformaria os bailes blacks, que antes eram influenciados pela geração Black Rio, que tocava a funk music e o soul americano. Aos poucos as equipes de som como Cash Box e Furacão 2000 foram introduzindo aquele estilo que no futuro iria dar no funk carioca”.
Imagem deturpada
Na entrevista, Bambaataa também criticou a imagem estereotipada do gênero Gangster Rap, que exalta a violência e o consumismo, que as gravadoras e rádios querem associar ao movimento. “Nós temos que continuar trabalhando para mostrar todas as vertentes do Rap e não apenas um estilo que as rádios querem te obrigar a escutar. Existe um mal dentro do Hip Hop, que quer programar o seu ouvido”, afirma Afrika.
O DJ TR também concorda que a imagem que chega do Hip Hop no Brasil é muito atrelada a interesses econômicos que deturpam os verdadeiros valores da reflexão original.“O que o grande público vê e ouve através das rádios e tevês são produtos enlatados feitos para consumo imediato e sem maiores reflexões. Quem ouve e se identifica acaba retransmitindo algo que nada tem a ver com a filosofia original e aquele que não gosta não tem o interesse de ouvir outras coisas relacionadas a cultura Hip Hop”, lamenta.
O tempo da entrevista estava terminando e Bambaataa continuava sereno olhando a movimentação dos repórteres ao redor. Depois de tantos anos espalhando a cultura do Hip Hop por diversos países ele não pensa em parar.
“Por mais que o gênero esteja conhecido, ainda existem muitas pessoas que desconhecem a verdadeira filosofia do movimento, seja na África ou nos Países Nórdicos. Não podemos aceitar com tanta facilidade aquilo que mostram como verdade. Precisamos analisar o mundo através de várias perspectivas e a partir daí formar a nossa opinião”.
Nem sempre esse respeito e admiração foram conquistados através da música. Na década de 60, o então jovem Kevin Donovan era líder dos “Espadas Negras”, uma das mais perigosas gangues do Bronx, bairro pobre do estado de Nova Iorque e de maioria negra. A sua trajetória parecia destinada a repetir as histórias de diversos outros jovens que morriam por disputas de gangues por pontos de drogas na comunidade.
A grande mudança na sua vida veio a partir do momento em que ele e os demais integrantes dos Espadas Negras perceberam que as brigas não iriam transformar a sua realidade e muito menos da comunidade. A partir dessa mudança de olhar, eles se entregaram a uma cultura de rua que surgia em Nova Iorque e integrava as pessoas promovendo festas com rap, break e grafite, elementos que viriam a formar o conceito de Hip Hop. Bambaataa e os demais membros de sua antiga gangue formaram um grupo que pretendia reunir todos os rivais, através de alguns preceitos. Assim surgia a Universal Zulu Nation, que tinha como lema: “Paz, Unidade, Amor e Diversão”.
Hoje, com quarenta e oito anos, ainda continua um ativista das causas sociais através da música espalhando as sementes de que música e comprometimento social andam juntos.
“Eu já viajei para várias partes do mundo e estive em diferentes favelas e sempre digo aos jovens que encontro para se organizarem e protegerem sua comunidade. Não esperem que o governo faça algo. Corram atrás dos seus direitos”, disse Bambaataa durante a entrevista que promovia a sua turnê no Brasil.
A origem do nome Zulu Nation, foi inspirado no filme “Zulus”, do diretor americano Cy Endfield, no qual essa tribo de guerreiros que viviam na África do Sul lutavam contra a dominação britânica no final do século 19.
O grupo que surgiu há trinta e quatro anos virou uma organização mundial contando com milhares de adeptos em vários países, inclusive no Brasil, que ajudam a difundir princípios como respeito, liberdade, justiça, trabalho e auto-conhecimento para jovens de periferia, em especial a mais carente de serviços básicos.
“Muitos afro-brasileiros não conhecem seu passado. Muitos pensam que a história começa apenas quando foram trazidos pelos europeus como escravos ao Brasil. Se você acreditar que sua história se resume a apenas isso, você será somente isto. Mas quando se começa a procurar suas raízes descobre-se coisas que muitos não querem te ensinar”.
Bambaataa e a Rocinha
Os B.boys, como são chamados os dançarinos de break, do Grupo de Break Consciente da Rocinha (GBCR) entraram para a Zulu Nation através de um convite do próprio mentor. Há 14 anos desenvolvendo trabalhos sociais usando a filosofia do Hip Hop em algumas comunidades do Rio, como no Complexo da Maré e Rocinha, eles conheceram Bambaataa durante uma apresentação do próprio em 2003, no Rio de Janeiro.
Para o dançarino Willamy Sequeira (Zulu Will), o trabalho rompe barreiras através de oficinas de dança e grafite.“Há cinco anos o grupo desenvolve esse trabalho na Maré e os resultados começam a surgir com uma nova geração de dançarinos que estão surgindo na comunidade”, afirma.
“Conhecer o Bambaataa foi um dos grandes momentos da minha carreira como dançarino. Após o show ele me chamou no camarim e fez várias perguntas sobre o nosso grupo. No fim daquela conversa, ele disse que gostaria de visitar o trabalho na Rocinha e nos convidou para fazer parte da Zulu Nation. Para oficializar o convite ele me condecorou com um dos cordões que carrega no pescoço. Quase morri de tanta emoção. Eu que era fã dele agora ia fazer parte do seu grupo”, afirma Willamy, que excursionou por dois meses pela Europa com o Bambaataa.
O disco que mudaria o Hip-hop
A entrevista com Bambaataa não enfocou apenas os trabalhos sociais realizado pela Zulu Nation, mas também suas influências musicais. Quando criou o grupo “The Soul Sonic Force” e lançou o disco Planet Rock, que seria um o marco do gênero, Bambaataa ajudou a expandir a cultura, que antes se restringia apenas aos guetos, para mais pessoas que ficaram curiosas com o batidão, que misturava musica eletrônica e letras politizadas. O disco viria a influenciar milhares de artistas e também na criação de sub-gêneros como Miami Bass e o próprio funk carioca.
“Essa é a quarta vez que eu venho para o Brasil e gosto da mistura de música que existe por aqui. Eu curto o funk carioca, inclusive já gravei algumas músicas com o DJ Malboro e com o MC Catra. Também gosto muito da MC Tati Quebra-Barraco e gostaria de gravar um rap com ela," diz Bambaataa.
Para Sergio José Machado Leal, o DJ TR, autor do livro “Acorda Hip Hop!”, que narra a história do movimento no Brasil, a música Planet Rock mudaria para sempre a cultura de rua no mundo e no Rio de Janeiro.
“Essa música ajudou a divulgar para a geração dos anos 80 o que era o Hip Hop e sua cultura, além de abrir as portas para o surgimento de outros gêneros. A leitura eletrônica do rap criado por Afrika Bambaataa transformaria os bailes blacks, que antes eram influenciados pela geração Black Rio, que tocava a funk music e o soul americano. Aos poucos as equipes de som como Cash Box e Furacão 2000 foram introduzindo aquele estilo que no futuro iria dar no funk carioca”.
Imagem deturpada
Na entrevista, Bambaataa também criticou a imagem estereotipada do gênero Gangster Rap, que exalta a violência e o consumismo, que as gravadoras e rádios querem associar ao movimento. “Nós temos que continuar trabalhando para mostrar todas as vertentes do Rap e não apenas um estilo que as rádios querem te obrigar a escutar. Existe um mal dentro do Hip Hop, que quer programar o seu ouvido”, afirma Afrika.
O DJ TR também concorda que a imagem que chega do Hip Hop no Brasil é muito atrelada a interesses econômicos que deturpam os verdadeiros valores da reflexão original.“O que o grande público vê e ouve através das rádios e tevês são produtos enlatados feitos para consumo imediato e sem maiores reflexões. Quem ouve e se identifica acaba retransmitindo algo que nada tem a ver com a filosofia original e aquele que não gosta não tem o interesse de ouvir outras coisas relacionadas a cultura Hip Hop”, lamenta.
O tempo da entrevista estava terminando e Bambaataa continuava sereno olhando a movimentação dos repórteres ao redor. Depois de tantos anos espalhando a cultura do Hip Hop por diversos países ele não pensa em parar.
“Por mais que o gênero esteja conhecido, ainda existem muitas pessoas que desconhecem a verdadeira filosofia do movimento, seja na África ou nos Países Nórdicos. Não podemos aceitar com tanta facilidade aquilo que mostram como verdade. Precisamos analisar o mundo através de várias perspectivas e a partir daí formar a nossa opinião”.
Créditos: Rodrigo Nogueira Overmundo
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