Funk na cabeça
20:42Uma nasceu e cresceu em uma favela carioca e quando começou a ganhar dinheiro comprou uma casa na Cidade de Deus, onde sempre morou. A outra nasceu em Londres, passou parte da infância entre a Índia e o Sri Lanka. O que liga as duas? O funk carioca. DEIZE TIGRONA é autora de uma das músicas do CD de M.I.A., sensação do último TIM Festival. As duas se conheceram no Rio e se deram bem de cara
Por Luciana Barcellos
Ela é conhecida como Deize Tigrona, mas também ficou famosa como Deize da Injeção, por causa de uma de suas músicas, Injeção, que agita os bailes cariocas e já botou para dançar cerca de 5 mil pessoas em Paris, mês passado, e encantou a inglesa M.I.A. Aos 26 anos, Deize, casada e mãe de uma menina de 3 anos, está conhecendo o sucesso e prepara-se para lançar o primeiro CD, graças ao DJ Marlboro. “Nunca imaginei que um dia estaria em cima de um palco. Imagina: era empregada doméstica, saí da favela. De repente, estava em Paris. Não entendia nada do que eles falavam, mas, quando comecei a cantar, o povo foi à loucura. Os franceses têm carência de funk”, observa Deize.
QUEM –Funk só é bom quando protesta?DEIZE TIGRONA – Não. As pessoas vão nos bailes para se divertir e rebolar muito.
QUEM – O que toca no seu iPod?
DT – Prefiro ouvir CD mesmo. Rita Lee, Djavan, Lulu Santos...
QUEM – O que não escuta nem pagando?
DT – Sei lá. Acho que Pavarotti.
QUEM – O que dá mais ibope: cantar desigualdades sociais, problemas do país ou homem?
DT – Falar de homem. Essas músicas que dizem ‘tô passando fome’, ‘minha casa tá pegando fogo’, ninguém quer mais ouvir.
QUEM – Baile bom tem de...
DT – ...estar lotado.
QUEM – Que som anima a galera?
DT – Pancadão sensual.
QUEM – Funk dá dinheiro?
DT – Dá. Comprei minha casa graças ao funk.
QUEM – Sonho de consumo.
DT – Ter um carro. Quando se tem carro, tudo fica mais fácil.
QUEM – O que fez com o primeiro dinheiro que ganhou?
DT – Eu me mudei para um lugar melhor na Cidade de Deus.
QUEM – O melhor de cantar funk é...
DT – ...ver a galera vibrar junto com você.
QUEM – Quem é o melhor do funk para você?
DT – Eu. Sou a melhor.
QUEM – O que o funk carioca tem?
DT – Dá mais oportunidade do que em outros lugares.
QUEM – Funk feito por mulher é diferente?
DT – Homens e mulheres zoam nas letras. A diferença é que a mulher dança, rebola e os homens são mais duros.
QUEM – Quem gostaria que gravasse sua música?
DT – Rita Lee. Se ela gravasse, acho que eu desmaiaria.
QUEM – Funkeira tem de ter corpão?
DT – Não. A Tati fez sucesso antes de ter o corpão de hoje.
Filha de ex-guerrilheiro do Sri Lanka, Maya Araul Pragasam nasceu em Londres e viveu boa parte da vida como refugiada. “Nunca fiquei num lugar tempo suficiente para sentir que aquilo era a minha casa”, diz M.I.A., 28 anos, que ao se tornar artista adotou as iniciais que em inglês querem dizer Missing in Action, expressão para desaparecidos em ação, referência ao passado político do pai. Aos 10 anos, foi morar na Inglaterra, onde formou-se em artes plásticas e cinema. O funk carioca foi paixão à primeira vista: Injeção serviu de base para Bucky Done Gun, carro-chefe do CD de estréia, Arular. Em sua passagem pelo Brasil, ela dispensou a entourage, chegou mais cedo para passear e quer fazer música com Deize Tigrona.
QUEM – Funk só é bom quando protesta?
M.I.A. – De jeito nenhum. Uso a música como forma de protesto. Mas pode ser só curtição.
QUEM – O que toca no seu iPod?
M.I.A. – Kenya West, Goldigger, Rich Boy, Gotta Get It Poppin’, funk carioca, Deize Tigrona...
QUEM – O que não escuta nem pagando?
M.I.A. – Não gosto de jazz.
QUEM – O que dá mais ibope cantar: desigualdades sociais, problemas do país ou homem?
M.I.A. – Tudo. Acho que o adulto sente todas essas coisas.
QUEM – Baile bom tem de...
M.I.A. – ...ter muitos rapazes e garotas, muita tensão sexual.
QUEM – Que som anima a galera?
M.I.A. – Funk e dancehall.
QUEM – Funk dá dinheiro?
M.I.A. – Não. Não oferece uma indústria que o pobre possa usar para ascender socialmente e ainda não surgiu um superastro, como Snoop Dogg, 50 Cent, Eminem, Missy Elliott.
QUEM – Sonho de consumo.
M.I.A. – Não tenho. Cresci sem querer ter coisas.
QUEM – O que fez com o primeiro dinheiro que ganhou?
M.I.A. – Comprei um carro para minha mãe.
QUEM – O melhor de cantar funk é...
M.I.A. – ...poder entrar em contato com uma coisa doce dentro de você.
QUEM – Quem é o melhor do funk para você?
M.I.A. – Meu namorado, o DJ Diplo, e DJ Marlboro.
QUEM – O que o funk carioca tem?
M.I.A. – É como se fosse o sangue que corre nas veias das favelas.
QUEM – Funk feito por mulher é diferente?
M.I.A. – Eu acho que é melhor.
QUEM – Quem gostaria que gravasse sua música?
M.I.A. – Queria escrever uma música em inglês simples o bastante para a favela cantar junto.
QUEM – Funkeira tem de ter corpão?
M.I.A. – Não. É importante ensinar as garotas a usar outra ferramenta: o cérebro.
Créditos: Revista Quem
"Se você e/ou sua empresa possui os direitos de alguma imagem/reportagem e não quer que ela apareça no Funk de Raiz, por favor entrar em contato. Serão prontamente removidas".
0 COMENTÁRIOS
- Não serão aceitos comentários anônimos ou assinados com e-mail falso.
– Serão, automaticamente, descartados os comentários que contenham insultos, agressões, ofensas e palavras inadequadas.
– Serão excluídos, igualmente, comentários com conteúdo racista, calunioso, difamatório, injurioso, preconceituoso ou discriminatório.
– Os comentários publicados poderão ser retirados a qualquer tempo, em caso denúncia de violação de alguma das regras acima estabelecidas.