O MC que devolveu a voz ao funk carioca
15:41O CNPJ só deve sair na semana que vem, mas esperar a burocracia legal para ver o movimento reconhecido não fazia parte dos planos da Associação de Profissionais e Amigos do Funk (ApaFunk). Criada há um ano e três meses, a entidade conseguiu mobilizar os funkeiros, derrubar uma lei que impedia a realização dos bailes e terminar a semana representada no gabinete do governador Sérgio Cabral. Tudo porque uma frase mexia com os brios de um inquieto MC Leonardo:
— A ApaFunk nasceu de uma negação que a gente recebeu: “Aqui, funk não toca”. Essa frase ficou na nossa cabeça desde o começo de 2000. Ano passado, com a minha entrada no meio universitário, fui conhecendo movimentos sociais e ela foi criada — explica Leonardo, presidente da ApaFunk.
Encontro na FGV
O MC descobriu as universidades através de Adriana Facina, antropóloga e professora da Universidade Federal Fluminense (UFF), que fez um estudo sobre o ritmo.
— Cursei só até a 5 série, mas já fiz palestra na Unicamp e em todas as públicas aqui do Rio. A ApaFunk existe para criar mitos e ocupar espaços que o funk ainda não ocupou — garante ele.
Na quarta-feira, a diretoria da associação falará sobre políticas públicas para a Fundação Getúlio Vargas (FGV).
Baile com a segurança da Polícia Militar
Ex-morador da Rocinha, onde vive sua família — incluindo seu irmão e parceiro de dupla, Júnior —, hoje Leonardo vive na Taquara, mas faz questão de lembrar, a todo momento, as origens. O MC afirma que o funk ficou na marginalidade por um erro do poder público:
— Os moleques da favela têm que notar que são agentes culturais, que têm papel importante nesta cidade. Não podemos discriminar a linguagem da juventude. Se não, a perderemos para o tráfico. O governo não dá um centavo para o funk e quer que ele seja puro.
Leonardo defende que a Polícia Militar faça a segurança na porta dos bailes.
— Se a polícia estiver na porta para dar segurança a quem entra e sai, o baile será outro. O comandante da PM quer saber nossa proposta.
Volta aos clubes
O presidente da ApaFunk quer a revitalização dos clubes que pararam de fazer bailes com as equipes de som:
— A Apafunk não vai fazer baile na boca de fumo. Vai fazer nos clubes. Na favela, você já fica a semana toda, quer ver gente diferente. O baile ilegal não vai acabar. Vai continuar existindo porque o traficante gosta de funk e não vai ao clube.
No princípio, uma batalha desacreditada
A mobilização da ApaFunk para derrubar a Lei 5.265/2008, do deputado cassado Álvaro Lins — que impedia a realização de bailes funk —, começou dois meses depois da criação da entidade. Apesar dos 17 anos de carreira e de ser conhecido por fazer letras de protesto e questionamento, MC Leonardo não encontrou adesão num primeiro momento:
— Diziam que a Alerj era racista e não era o caminho.
Na última terça-feira, a lei foi revogada e o funk reconhecido como patrimônio cultural.
— Nosso estatuto e toda a papelada foram feitos pelo DPQ (Direito para Quem?), da Uerj. Um grupo de formandos de direito, brancos, que nunca foram a uma favela. Mais democrático impossível.
Assista ao vídeo com o rap dos irmãos MCs Júnior e Leonardo, que não toca nas rádios
Créditos: Jornal Extra/RJ
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