É O BICHO, É O BICHO
22:37Pesquisa aponta o funk como o maior movimento cultural de massa do país.
Ele é hedonista. Narcisista,
artista, generoso, experimental, politizado, contestador. Mas não só isto.
Agora o carioca também é funk - embora não assuma - como afirmou Maria Teresa
Monteiro, da Retrato Consultoria e Marketing, que traçou o perfil social e
cultural do morador do Rio, durante o encontro.
O
carioca dos anos 90, promovido na ultima quinta-feira pela
Associação Brasileira de Agencias de Propaganda (Abasp). Depois de dois 2 anos pesquisando
exaustivamente a população jovem da cidade, Maria Teresa chegou a conclusão de
que esta ocorrendo nos morros e na periferia do Rio o maior movimento
cultural de massa que surgiu nos últimos anos no país. Um movimento que
começou com musica e dança e agora assume um perfil eminente politico: é a
luta, em meio a muito preconceito de 1.5
milhão de jovens das classes D e E por espaço, identidade — e por diversão.
"Quantitativamente não
há no mundo um Movimento formado por milhão e meio de jovens, a maioria deles
negros, como o movimento funk do Rio. São rapazes e moças entre 14 e 20 anos
que, sem perspectivas de ascensão social, dirige suas energias para os bailes
funk — e só para eles", revela Mana
Teresa.
Enquanto o jovem da Zona Sul tem lazer
diversificado, a garotada de subúrbio e dos morros só tem o funk. Existem na cidade quatro grande baile,
reunindo quatro ou cinco mil jovens cada um deles: o Pavunense, na Pavuna, o Boêmios, no Irajá,
o Mauá, em São Gonçalo e o Mourisco que
reúne as galeras de toda a Zona Sul. O preço da entrada está entre Cr$ 10 mil e
Cr$ 20 mil cruzeiros. E só os homens pagam. Isso porque, como os pais
geralmente não tem dinheiro para dar para todos os filhos se divertirem, eles
privilegiam os rapazes.
"Os bailes funk tentam
adequar a pobreza de seu público á diversão. Aí, como não há bailes sem moças,
as mulheres entram de graça", explicou Maria Teresa.
O acesso fácil aos bailes, é
apenas um dos motivos de os jovens
marginalizados construírem sua
identidade no ritmo do funk. Outro é a
criação de uma nova estética, mais barata do que a dos rockers (para eles já transformados em sistema e
identificados com os exibicionistas mauricinhos) e julgada bonita por eles. Só que, atualmente o movimento que quando surgiu, há dez anos, era mais música e dança, ganha conteúdo.
De acordo com a diretora da
Retrato, os funkers tem uma noção perfeita de que o movimento veio dos Estados
Unidos, com James Brown, como um ritmo afro, buscando identidade entre os
representantes da raça negra, geralmente marginalizados lá e aqui.
No Rio, os funkeiros andam chateados com a não
legitimidade de seu movimento. Sentem-se descriminados quando o funk é visto
como coisa de suburbano ou associado aos
arrastões.
A maneira de reagir a
condição marginalidade divide o movimento funk em gangues e galeras. A gangue
tem na violência sua expressão de protesto. A galera dança para esquecer a
falta de perspectivas e para tomar a vida alegre e suportável. Maria Teresa
Monteiro estudou o universo de cada um desses
grupos e descobriu que as gangues se espalham pela Baixada e favelas da
Zona Sul. Que vários de seus componentes já estão misturados ao crime
organizado e são liderados pelo Comando Vermelho e pelo Segundo Comando. Ha
esse movimento dentro do funk na medida que tomam consciência de sua situação
social, as galeras viram gangues. Vão para arrastões, viram aviões de
traficantes, os únicos a reconhecerem seu movimento cultural.
"Esses jovens
marginalizados já estão se dando conta de sua força numérica”, assegura Maria
Teresa, que não sabe até quando a garotada das galeras vai se contentar apenas
em dançar. Por isto mesmo, ela sentencia:
"Ou o RIO, a sociedade
os meios comunicação, os poderes publico adotam o movimento funk ou a luta social que
dá origem à violência vai se acirrar a níveis incontroláveis.
Créditos: Andréia Curry – Caderno B do Jornal do
Brasil/1992
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