Com quem está a violência?
21:43 Por Marcelo Salles, 14.07.2009
Divulgação da Matéria autorizado por Marcelo Salles
O que torna uma sociedade mais segura não é sua polícia, é a capacidade que a sociedade tem de garantir uma cultura de direitos - Marcelo Freixo, deputado estadual (PSOL-RJ) e presidente da Comissão de Direitos Humanos da Alerj
Na sexta-feira, 10 de julho, um cabo do Bope foi assassinado por bandidos, na Tijuca. Devemos lamentar o ocorrido, sem dúvida. O policial estava cumprindo seu dever; ele tentou surpreender dois assaltantes que rendiam uma motorista, mas foi morto por um terceiro que estava fora de seu campo de visão.
Pra quem acha que todo bandido escolhe a “profissão” por livre e espontânea vontade, fica difícil, quase impossível, entender o que o Marcelo Freixo quis dizer. No caso do assalto acima citado, de imediato se poderia dizer que só a polícia poderia evitar o crime. No entanto, será que um cidadão se arriscaria caso pudesse sustentar sua família, com dignidade, uma vez empregado?
“Se a segurança depende da polícia é porque já tem equívocos anteriores”, continua Marcelo Freixo. Já está provado que a pobreza não gera violência. Desigualdade social gera violência. Ainda mais quando a mídia joga a favor desse apartheide. O fotojornalista italiano Oliviero Toscani dizia: “A publicidade gera delinquencia”. Claro, se você estimula e até fabrica desejos sobre um determinado objeto, e essa mensagem vai chegar a quem pode e a quem não pode ir até a loja comprar o produto. Queria o quê? Nem todo mundo tem vocação pra passar a vida no muro das lamentações.
Outra questão importante: nos dias seguintes ao assassinato do cabo do Bope, a polícia desencadeou uma onda de terror na cidade. Cerca de dez pessoas foram mortas, nem todas bandidas. No Morro dos Macacos, por exemplo. Uma fonte que lá esteve contou que foram cinco mortos e não três, como publicado pelas corporações de mídia. E desses cinco, dois não tinha nada a ver. Morreram porque são pobres. Será que vai haver perícia? Será que a mídia grande vai se indignar? Será que vai haver comoção nacional?
Não, nada disso. Em lugar de uma investigação séria e honesta, um julgamento sumário: a culpa é do funk. Toda a mídia corporativa associou a recente escalada da violência com a realização de bailes funk. Assim, diziam generalidades como “os policiais foram recebidos a tiros por traficantes que estavam em bailes funk”, uma repetição vulgar da versão policial. No Morro dos Macacos, minha fonte garante que isso é mentira, que era uma festa junina e não o temido baile.
E mesmo que a refrega tivesse ocorrido num baile funk, a culpa vai ser do gênero musical? O delegado de Polícia Civil Orlando Zaccone, analista crítico do atual modelo de segurança, brincou: “Se você pegar os registros de ocorrência nas proximidades do Maracanã em dia de jogo, vai ver que também aumenta. E aí, a solução é fechar o Maracanã?” Orlando, que é mestre em criminologia crítica, acrescenta que a proibição não é sobre qualquer funk, mas àquele localizado na favela porque este é “o local que precisa ser controlado”.
Ao fim e ao cabo, o que se percebe é uma inversão completa: a polícia, que deveria contribuir com a garantia dos direitos (inclusive a segurança pública), termina por provocar a violência. E as outras instituições da sociedade, públicas e privadas, em vez de buscarem a resolução do problema em sua raíz, clamam por mais violência. Sobretudo a mídia vampira.
PS: Leia aqui a reportagem “Funk Carioca – o batidão entre a repressão e a resistência“, publicada na edição de julho de 2009 da revista Caros Amigos.
Na sexta-feira, 10 de julho, um cabo do Bope foi assassinado por bandidos, na Tijuca. Devemos lamentar o ocorrido, sem dúvida. O policial estava cumprindo seu dever; ele tentou surpreender dois assaltantes que rendiam uma motorista, mas foi morto por um terceiro que estava fora de seu campo de visão.
Pra quem acha que todo bandido escolhe a “profissão” por livre e espontânea vontade, fica difícil, quase impossível, entender o que o Marcelo Freixo quis dizer. No caso do assalto acima citado, de imediato se poderia dizer que só a polícia poderia evitar o crime. No entanto, será que um cidadão se arriscaria caso pudesse sustentar sua família, com dignidade, uma vez empregado?
“Se a segurança depende da polícia é porque já tem equívocos anteriores”, continua Marcelo Freixo. Já está provado que a pobreza não gera violência. Desigualdade social gera violência. Ainda mais quando a mídia joga a favor desse apartheide. O fotojornalista italiano Oliviero Toscani dizia: “A publicidade gera delinquencia”. Claro, se você estimula e até fabrica desejos sobre um determinado objeto, e essa mensagem vai chegar a quem pode e a quem não pode ir até a loja comprar o produto. Queria o quê? Nem todo mundo tem vocação pra passar a vida no muro das lamentações.
Outra questão importante: nos dias seguintes ao assassinato do cabo do Bope, a polícia desencadeou uma onda de terror na cidade. Cerca de dez pessoas foram mortas, nem todas bandidas. No Morro dos Macacos, por exemplo. Uma fonte que lá esteve contou que foram cinco mortos e não três, como publicado pelas corporações de mídia. E desses cinco, dois não tinha nada a ver. Morreram porque são pobres. Será que vai haver perícia? Será que a mídia grande vai se indignar? Será que vai haver comoção nacional?
Não, nada disso. Em lugar de uma investigação séria e honesta, um julgamento sumário: a culpa é do funk. Toda a mídia corporativa associou a recente escalada da violência com a realização de bailes funk. Assim, diziam generalidades como “os policiais foram recebidos a tiros por traficantes que estavam em bailes funk”, uma repetição vulgar da versão policial. No Morro dos Macacos, minha fonte garante que isso é mentira, que era uma festa junina e não o temido baile.
E mesmo que a refrega tivesse ocorrido num baile funk, a culpa vai ser do gênero musical? O delegado de Polícia Civil Orlando Zaccone, analista crítico do atual modelo de segurança, brincou: “Se você pegar os registros de ocorrência nas proximidades do Maracanã em dia de jogo, vai ver que também aumenta. E aí, a solução é fechar o Maracanã?” Orlando, que é mestre em criminologia crítica, acrescenta que a proibição não é sobre qualquer funk, mas àquele localizado na favela porque este é “o local que precisa ser controlado”.
Ao fim e ao cabo, o que se percebe é uma inversão completa: a polícia, que deveria contribuir com a garantia dos direitos (inclusive a segurança pública), termina por provocar a violência. E as outras instituições da sociedade, públicas e privadas, em vez de buscarem a resolução do problema em sua raíz, clamam por mais violência. Sobretudo a mídia vampira.
PS: Leia aqui a reportagem “Funk Carioca – o batidão entre a repressão e a resistência“, publicada na edição de julho de 2009 da revista Caros Amigos.
Créditos: Marcelo Salles/Fazendo Média
Divulgação da Matéria autorizado por Marcelo Salles
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